
O programa Sociedade Civil, da RTP2, levou-a para a área social. Quando saiu do jornalismo, Fernanda Freitas acabou por seguir este caminho. Com algumas dores. Aprendeu que ajudar os outros não é só um espírito caritativo do coitadinho e da boa pessoa. “Tem muito know how e inovação. Tem muitas pessoas a pensar sobre este tema. Se houvesse mais inovação social em Portugal e no mundo, não teríamos nem um décimo dos problemas que temos. É a minha convicção profunda”, afirma.
Aprendeu também que ser empreendedora não é ser empresária. “Abri uma empresa por questões de necessidade”, admitindo que foi um programa de mentoria que salvou o seu negócio logo no segundo ano de vida. Fernanda Freitas, empreendedora social e fundadora do projeto Nuvem Vitória, realça que as PME, ou as “P”, de pequeninas ou mesmo “N” de nano, caso da sua empresa, acabam por ser tratadas como as grandes organizações, com as mesmas obrigações e quando se transporta isto para o setor social os desafios são os mesmos. “É claro que somos todos iguais, mas abrir uma empresa hoje é um grande desafio”, desabafa, admitindo, contudo, que esse percurso a ajudou a implementar o projeto Nuvem Vitória.
Fernanda Freitas explica que este é um projeto de inovação social. “Nasceu como me ensinaram, ou seja, para dar resposta a um problema social. Todas as noites, mais de 1000 voluntários vão a 11 hospitais espalhados pelo país ler histórias de embalar às crianças internadas. É uma resposta social, daí o projeto ter sido apoiado pelo Portugal Inovação Social”. Esta associação já tem no seu percurso 100 mil histórias contadas, 31 mil horas de voluntariado e 68 mil internamentos abrangidos.
A empreendedora social, que já teve acesso a financiamento através de fundos, explica que o processo é muito burocrático. “Põe muitas vezes os projetos à beira da rua da amargura porque muitas vezes é preciso contratar pessoas para fazer estas candidaturas e o lucro que se poderia trazer perde-se”, lamenta, dizendo que no caso do projeto Nuvem Vitória o sonho é ter um padrinho ou madrinha para cada núcleo hospitalar. “São 5000 euros por ano”, avança.
No entanto, admite que o Portugal 2030 é um ótimo instrumento e conta que está a trabalhar em algo mais ambicioso. “Estamos a lutar pelo título de impacto social, ou seja, que o projeto seja reconhecido a nível governamental como uma boa prática que está a ajudar na área da saúde; o ODS3 [objetivo de desenvolvimento sustentável] saúde e bem-estar”. Mas o verdadeiro sonho era que o terceiro setor deixasse de ser visto apenas como o que trata dos pobrezinhos. “O terceiro setor é o que resolve problemas”, afirma Fernanda Freitas.
A fundadora do projeto Nuvem Vitória é muito crítica em alguns pontos. “A facilidade com que se abre uma associação só porque sim perturba o ecossistema. Já há pessoas a fazer aquele trabalho, então porquê repetir? O que me apaixonou na inovação social foi procurar uma resposta que ainda não exista”, aponta. Por isso, apela: “se já há uma entidade que ajuda o dedo mindinho da mão esquerda, então não abram outra, por favor, que ajuda o dedo mindinho da mão direita. Juntem-se! Pode ser um cliché, mas juntos somos mais fortes”.
Depois, aquela ideia de que se reúnem uns amigos e “'bora lá mudar o mundo” é algo que para Fernanda Freitas deveria ser pensado. “Não têm informação. Têm boa vontade e começam a fazer “cenas”. Agora vamos ajudar este, depois aquele e de repente é um caos e perde-se o propósito, a missão”.
Fernanda Freitas falou ainda do tempo em que foi Presidente Nacional do ano europeu contra a pobreza e exclusão social. “Foi a menina dos meus olhos. 2011 foi um ano muito impactante para mim”, confessa, dizendo que a educação é a base de tudo e o segredo para se cumprir os ODS. E termina o podcast a falar na importância da cidadania.