Sabe-se agora que Dominique Pélicot não só violou a mulher como ‘ensinou’ as práticas a outro homem. Trata-se de Jean-Pierre Maréchal, de 63 anos, que em tribunal admitiu ter abusado sexualmente da mulher por 12 vezes.
O alegado 'discípulo' conheceu Pélicot através de um site de encontros sexuais, que entretanto já foi encerrado, chamado “contra o conhecimento dela”. Aí, foi presuadido, assim como Dominique fez com outros homens, a sedar a mulher e a violá-la.
Jean Pierre não aceitou fazê-lo com Giséle Pélicot, mas fê-lo com a própria mulher durante cinco anos, entre 2015 e 2020. De acordo com as autoridades, terá aliciado Dominique a fazer o mesmo.
“ De cada vez que se deslocava [lá], fornecia-lhe a medicação para a próxima vez” , disse o investigador principal, Stéphan Gal ao tribunal, cita o The Guardian.
Em tribunal, o advogado de Dominique Pélicot confirmou a acusação, admitindo que o cliente tinha fornecido os sedativos quatro vezes.
Mulher de Jean-Pierre não é parte civil do processo
As autoridades disseram em tribunal que a mulher de Jean Pierre não quis ser parte do processo, uma vez que “tem cinco filhos e quis protegê-los”. Acrescentaram, ainda, que isso era "espantoso” tendo em conta as imagens que lhe foram mostradas.
Um dos filhos de Jean-Pierre, fruto de um primeiro casamento, manifestou-se dizendo que que “as acusações são muito graves" e que pensa que o pai "está consciente disso”. O jovem, de 32 anos, acrescentou, ainda, que o pai deveria falar em tribunal e que era “certo” que este tinha sido manipulado.
“Tenho a firme convicção de que, se ele não tivesse conhecido esta pessoa, nunca teria acontecido nada disto”, afirmou.
Julgamento pode ser adiado devido ao estado de saúde de Dominique
Esta quinta-feira, o juiz do processo, Roger Arata, adiou o julgamento para uma data posterior, uma vez que Dominique Pélicot foi dispensado devido ao seu estado de saúde.
“Se Pélicot aparecer [segunda-feira], continuaremos (...) Se ele estiver ausente por mais um, dois ou três dias, prolongaremos a suspensão”. Mas se o arguido “estiver indisponível durante um longo período de tempo, o julgamento será adiado”, disse cita o jornal britânico.
O francês, de 71 anos, foi autorizado na quarta-feira a abandonar o tribunal depois de ter chegado à audiência com um ar fraco e apoiado numa bengala. Foi então ordenado que fizesse um exame médico, que entretanto já foi realizado.
Se o processo for adiado, "tudo tem de ser reorganizado: a ordem de trabalhos, a disponibilidade da sala de audiências, a sala de audiências, etc.", afirmou a advogada de Dominique Pelicot, Béatrice Zavarro.
"E o que acontece com os detidos? Porque, nessa altura, posso presumir que haverá pedidos de libertação", adiantou.
O caso que está a chocar o mundo
Recorde-se que o julgamento deste caso começou na passada terça-feira em França. Gisele Pélicot pediu que a audiência fosse aberta para que o caso se torne público e aumentar a consciencialização sobre o tema.
O homem de 71 anos, que já admitiu os crimes, está a ser julgado por ter abusado sexualmente da mulher por quase 10 anos sem o seu conhecimento. Dominique drogava-a com comprimidos para dormir e depois recrutava dezenas de homens pela internet para a violarem na própria casa
Os registos destes atos foram encontrados pelas autoridades no seu computador, guardados numa pasta intitulada “abusos” onde estavam 20.000 imagens e vídeos. Além disso, foi encontrada outra pasta chamada "à volta da minha filha, nua" onde estavam registos da sua filha, Caroline Darien.
Para além de Dominque há mais 72 suspeitos neste caso, mas apenas 50 foram identificados e rastreados. A maioria destes homens, que têm idades compreendidas entre os 26 e os 74 anos, podem enfrentar uma condenação de 20 anos de prisão por violação agravada. Pelo menos 18, incluindo o marido de Gisele, já estão em prisão preventiva.
De todos estes homens, Gisele só terá reconhecido um dos alegados violadores. Trata-se de um homem que terá ido a sua casa falar com o marido sobre ciclismo e que mais tarde a cumprimentou na padaria.