Elon Musk poderá vir a ser convocado perante o Parlamento britânico devido ao alegado papel da sua rede social X (antigo Twitter) na instigação dos motins de extrema-direita no país, avança o jornal Politico.

As deputadas trabalhistas Chi Onwurah e Dawn Butler, candidatas à presidência do comité de ciência, inovação e tecnologia, afirmaram que iriam pressionar o proprietário da plataforma X e outros responsáveis por empresas de tecnologia para responder a questões sobre o papel das redes sociais na agitação crescente no Reino Unido. Além de terem garantido que iriam exercer maior pressão para a rede social X ter maior transparência.

Nos últimos dias, o Reino Unido tem sido assolado por violentos ataques da extrema-direita após três crianças terem sido assassinadas numa aula de dança por um jovem britânico, filho de migrantes. As legisladoras britânicas acusaram as plataformas de redes sociais, inclusive a X, de espalhar desinformação sobre a identidade do atacante, que foi identificado erradamente com um requerente de asilo acabado de chegar ao Reino Unido.

Musk também tem enfrentado críticas após ter reativado a conta do ativista Tommy Robinson, cofundador da Liga de Defesa Inglesa, uma organização de extrema-direita. Na sua conta, Tommy Robinson, um dos rostos dos vários protestos, tem publicado várias mensagens anti-imigração e anti-islamismo.

“Os pontos realmente importantes aqui são a forma como os algoritmos das plataformas promovem e amplificam a desinformação e a disseminação do ódio racial, e como os modelos de negócios das plataformas dependem disso”, explicou a deputada Chi Onwurah.

Em resposta a Musk, a deputada britânica questionou-o sobre o “papel da X na disseminação de desinformação” e alertou que a rede social tem a “responsabilidade de não incitar o ódio racial”.

Dawn Buttler também acredita que o futuro comité de ciência, inovação e tecnologia, que será eleito no dia 11 de setembro, deve “questionar todos os proprietários de plataformas de redes sociais”. “É uma base muito poderosa e temos de compreender esse poder e garantir que é responsável”, afirma. A deputada britânica conta ainda que já denunciou várias mensagens abusivas no X, mas recebe a resposta de que as publicações não atingem o limite necessário para a sua remoção.

As comissões das Câmaras dos Comuns têm o poder de convocar pessoas, requerer acesso a documentos ou registos. Como último recurso, as comissões podem emitir uma convocatória formal, apenas para quem se encontra no Reino Unido, e no caso de incumprimento, o convocado pode ser detido por desrespeito ao Parlamento.

Os responsáveis por plataformas tecnológicas no estrangeiro têm conseguido evitar o interrogatório. Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, foi convocado por uma comissão parlamentar na sequência do escândalo da Cambridge Analytica, mas recusou-se a comparecer. Na altura, a comissão ameaçou emitir uma convocatória formal na próxima vez que Zuckerberg estivesse no país.

Musk tem tecido críticas ao executivo do Reino Unido através da sua rede social

As tensões entre Elon Musk e o Parlamento britânico têm aumentado, com o primeiro a declarar que “a guerra civil é inevitável” no Reino Unido e o segundo a pedir ao proprietário da rede social X para ser responsável.

“Penso que é profundamente irresponsável. Penso que todos deviam estar a apelar à calma. O uso de linguagem como "guerra civil" não é de forma alguma aceitável”, afirmou a Ministra da Justiça, Heidi Alexander, numa entrevista à ‘Times Radio’, citada pela agência ‘Associated Press’. Alertou ainda que “se tens uma grande plataforma de redes sociais, também tens uma responsabilidade”.

Mais tarde, Musk voltaria a tecer críticas ao apelidar o primeiro-ministro britânico, Kier Starmer, de “Kier de duas camadas”, referindo-se à teoria da conspiração segunda a qual o sistema de justiça criminal britânico é mais brando com minorias do que com os manifestantes de extrema-direita. Comparou ainda a “repressão” da liberdade de expressão nas redes sociais no Reino Unido à União Soviética.

A Ministra da Justiça britânica indicou ainda que o executivo iria analisar a possibilidade de reforçar a atual Lei de Segurança ‘Online’, que entra totalmente em vigor até 2025. “Temos trabalhado com as empresas de redes sociais e algumas das medidas que já tomaram, como a remoção automática de algumas informações falsas, são bem-vindas”, disse Heidi Alexander ao canal televisivo BBC. “Mas há, sem dúvida, muito mais que as empresas de redes sociais poderiam e deveriam fazer”, lembrou.

Após Musk ter tomado posse da rede social conhecida como Twitter, um estudo do Pew Research Center, um centro de pesquisa norte-americano, mostrava que o número de utilizadores que se identificavam mais à direita do espetro político tinha aumentado. Mais de metade dos republicanos sentia-se mais à vontade de partilhar as suas opiniões, quando em comparação com apenas um terço de democratas.