A China recusa ser aliada de Moscovo no conflito na Ucrânia — diz-se somente um “parceiro estratégico” —, embora tenha estado ausente da cimeira de paz que se realizou na Suíça, em julho, e o enviado especial de Pequim para os assuntos euro-asiáticos tenha afirmado agora que a Rússia é “um país independente e soberano” e que ninguém poderá “forçar a Rússia a fazer o que nós queremos”.
Este enviado especial, Li Hui, tem pacientemente (vai já na sua quarta missão de paz desde maio do ano passado) contactado e visitado diversos países em busca de uma solução, um consenso de paz a ser adotado pelas Nações Unidas em Assembleia-Geral, ainda em 2024. Na passada semana, Li Hui visitou o Brasil e a África do Sul — curiosamente, dois países que bloquearam um entendimento na cimeira da Suíça — e regressado deste périplo pouco ou nada euro-asiático garantiu, nesta segunda-feira, que são já 110 as nações que apoiam a proposta de Pequim para colocar um fim à guerra na Ucrânia.
Na África do Sul, e a propósito do documento proposto por Pequim, Li Hui terá dito, citado agora pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, que Pequim está disposto a reforçar a comunicação, promovendo uma "base comum mais alargada" que reúna o consenso internacional baseado "em seis entendimentos comuns”.
O entendimento, por tão alargado que possa ser, terá de incluir russos e ucranianos. Do lado da Ucrânia, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, afirmou no mês passado, de visita à China, que só aceitaria negociar a proposta chinesa se Moscovo “agisse de boa-fé”. Já Moscovo garantiu abertura para dialogar e negociar, mas apenas com a condição de Kiev abandonar a candidatura à NATO e se retirar das quatro províncias mais a leste.
Não falando de paz mas de guerra, Kiev anunciou esta segunda-feira o desmantelamento de uma rede de espiões a funcionar na Ucrânia, tendo sido detidos nove cidadãos ucranianos. Segundo o Serviço de Segurança da Ucrânia, a operação que levou ao desmantelamento e detenções foi realizada nas cidades de Dnipro, Zaporijia e Sumi, e nas regiões de Donetsk, Odessa e Kirovohrad, embora a rede actuasse e estivesse ativa em grande parte do território do país.
A identidade destes suspeitos de espionagem não foi partilhada, mas o Serviço de Segurança da Ucrânia divulgou alguns perfis. Dos nove, dois são mulheres e trabalhavam nas câmaras municipais de Dnipro e Yuzhne, partilhando com Moscovo os locais de defesa antiaérea do exército ucraniano na frente leste.
Os nove alegados espiões agora detidos enfrentam uma acusação de traição que poderá ser punida com prisão perpétua e confisco de bens.
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⇒ Os últimos meses de conflito estão marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, mas o contra-ataque ucraniano tem existido e é cirúrgico, sobretudo na fronteira e na península anexada da Crimeia. A Ucrânia reivindicou esta segunda-feira ter destruído um avião de caça russo Su-34 e um depósito de armas no aeródromo russo de Morozovsk, na região de Rostov. Outros dois aviões russos, quatro edifícios técnicos e dois hangares da base aérea, localizados a 265 quilómetros da linha da frente, também sofreram danos, segundo o Estado-Maior da Ucrânia. Também nesta segunda-feira, o exército ucraniano garantiu que conseguiu abater 24 drones modelo Shahed (de fabrico iraniano) lançados pela Rússia às primeiras horas do dia contra as regiões de Kiev, Vinnytsia, Sumi, Kharkiv, Kirovohrad, Poltava e Dnipropetrovsk.