O dia na frente da guerra na Ucrânia ficou marcado por uma forte reação por parte das forças ucranianas, com uma alegada incursão de tropas a passar esta quarta-feira a fronteira para a Rússia através da região de Kursk.
Segundo as autoridades militares russas, cerca de 1.000 soldados ucranianos participaram na ação, que começou na noite de terça-feira. Entretanto, o governador Alexei Smirnov anunciou que foi decretado o estado de emergência dentro do território russo.
“A situação operacional continua a ser difícil nas zonas fronteiriças. Para eliminar as consequências da entrada de forças inimigas, decidi estabelecer um estado de emergência", destacou o governador Alexei Smirnov, numa mensagem na rede social Telegram.
O Presidente russo não gostou que os ucranianos tenham respondido fisicamente à invasão com a sua própria incursão, considerando que a iniciativa era “outra grande provocação” e alegando que forças ucranianas “dispararam indiscriminadamente” contra civis e edifícios russos.
As forças de Kiev terão atravessado a fronteira pela cidade de Sudzha, a cerca de 10 quilómetros da linha da frente, entre o norte da Ucrânia e o sul da Rússia.
A BBC avança que foram registados vários ataques aéreos de caças ucranianas e confrontos em aldeias russas ao longo do dia, com pelo menos cinco civis a serem mortos por ataques ucranianos, além de mais de 25 feridos.
Kiev tem-se mantido praticamente em silêncio e ainda não surgiu qualquer comunicado ou reação oficial à incursão em terras russas, nem qualquer declaração nas redes sociais dos principais responsáveis ucranianos. Ao canal bielorrusso Nexta, um coronel ucraniano adiantou, contudo, que o ataque era de natureza “preventiva”, apontando para a mobilização de dezenas de milhares de russos junto à fronteira entre as duas nações.
O único anúncio do Governo ucraniano para já foi a ordem de retirada de cerca de seis mil pessoas que vivem junto à fronteira com a região russa de Kursk.
Quanto aos Estados Unidos, que recentemente autorizaram Kiev a usar armas de longo alcance fornecidas pelos norte-americanos contra território russo, a administração de Joe Biden disse que está à espera de explicações dos ucranianos e que vai “contactar o exército ucraniano para saber mais sobre os seus objetivos”.
Em conferência de imprensa, a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierra, explicou que Kiev agiu com “bom senso”. E o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, acrescentou que o comentário de Putin sobre os ataques desta quarta-feira é “um pouco forte, tendo em conta que a Rússia violou a integridade territorial e a soberania da Ucrânia”.
NATO exige à Rússia que retire tropas da Geórgia 16 anos após a agressão
A NATO exigiu hoje à Rússia que retire as suas tropas das regiões da Geórgia onde permanecem desde a ocupação concretizada há 16 anos, defendendo ao mesmo tempo a soberania e a integridade territorial do país do Cáucaso.
“Instamos a Rússia a retirar as forças que mantém na Geórgia sem o seu consentimento. A Ossétia do Sul e a Abecásia fazem parte da Geórgia, apesar dos 16 anos de ocupação russa”, escreveu a porta-voz da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), Farah Dakhlallah.
“A NATO apoia totalmente a soberania e a integridade territorial da Geórgia”, insistiu.
A mensagem da Aliança Atlântica junta-se à expressa pelo Alto Representante da União Europeia (UE) para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Josep Borrell, que reiterou na terça-feira a condenação a uma agressão de 16 anos e apelou a uma resolução pacífica do conflito.
“O compromisso da União Europeia com a resolução pacífica dos conflitos na Geórgia permanece firme”, disse Borrell num comunicado.
No documento, Borrell, além de reiterar o “apoio incondicional à independência, soberania e integridade territorial” da Geórgia, condenou a “continuidade da presença militar russa e a ocupação das regiões da Abecásia e Ossétia do Sul”, que classificou como uma violação flagrante do direito internacional.
“Os direitos humanos daquelas comunidades na Geórgia continuam a ser violados, incluindo através das ‘polícias fronteiriças’, encerramento de pontos de passagem e detenções ilegais por parte dos militares russos”, advertiu o chefe da diplomacia europeia.
A 7 de agosto de 2008, a Rússia ocupou parte do território da Geórgia e iniciou uma guerra que ainda não encontrou resolução.
Seis anos mais tarde, em 2014, Moscovo anexou a península ucraniana da Crimeia e há mais de dois anos invadiu grande parte do território da Ucrânia com a intenção de o ocupar na totalidade e controlar as escolhas político-sociais e geoestratégicas do país.
Outras notícias:
> A Rússia acusou a Ucrânia de abrir uma “segunda frente” em África, apoiando “grupos terroristas”, alguns dias depois de mercenários russos do grupo Wagner e do exército maliano terem sofrido pesadas perdas no norte do Mali. Após derrota pesada e sem precedentes do grupo Wagner em África, um oficial dos serviços secretos militares ucranianos, Andriï Youssov, insinuou que Kiev tinha fornecido informações aos rebeldes para que estes pudessem levar a cabo o seu ataque;
> Na sequência do ataque de forças terroristas contra o grupo Wagner no Mali, e do alegado envolvimento de Kiev, o vizinho Níger tornou-se esta quarta-feira no segundo país africado a cortar relações diplomáticas com a Ucrânia, aprofundando a relação com o Kremlin;
> Pelo menos quatro pessoas morreram num bombardeamento russo em Donetsk, avançaram as autoridades locais através da rede social Telegram. Segundo o governador ucraniano, os civis foram mortos na linha da frente, a cerca de 50 quilómetros da zona de Donetsk controlada pelos russos;
> O administrador do canal Moscow Calling da plataforma digital Telegram, Andrei Kurshin, declarado “agente estrangeiro” pelas autoridades russas, foi condenado a seis anos e meio de prisão por divulgar notícias falsas sobre o Exército russo na Ucrânia. Kurshin, que durante as investigações preliminares e o julgamento foi mantido em prisão domiciliária, ficou também proibido de administrar sites da Internet durante quatro anos.