Cada noite no Stade de France é, por estes dias, um conjunto de finais e medalhas. O estádio transformou-se numa fábrica diária de emoções e heróis. Mas, a nível de star system e conteúdo para as redes sociais, nem todos os serões são iguais.
As bancadas, essas, estão sempre cheias, repletas de público entusiastas. Mas olhemos para os camarotes, para os exclusivos assentos onde se pagam milhares de euros para estar ou, em muitos casos, vai-se por convites. Chamemos-lhes as ‘zonas Snoop Dogg’ destes Jogos.
Camarotes na noite da final dos 100 metros masculinos? Cheios. Camarotes quando Mondo Duplantis bateu o recorde do mundo? Cheios. Camarotes nesta quarta-feira? Hmm, praticamente vazios.
Disputou-se uma tremendamente emocionante final dos 400 metros masculinos, decidiu-se o salto com vara feminina e o lançamento do disco masculino, mas isto não pareceu ser suficiente para convencer as estrelas que, por estes dias, saltam de concentração de famosos em concentração de famosos em Paris.
Perante estas ausências, havia uma presença destacada no Stade de France. Desde cedo, há muitas bandeiras de Marrocos. Muitas mesmos. A razão chama-se Soufiane El Bakkali e não desiludiu quem o veio ver.
O marroquino de 28 anos foi o melhor nos 3.000 metros obstáculos, repetindo o triunfo de Tóquio 2020. É o primeiro atleta de Marrocos a ganhar duas vezes a mesma competição nos Jogos e apenas o segundo com dois ouros, seguindo-se ao mítico Hicham El Guerrouj, campeão em Atenas 2004 nos 1.500 — com Rui Silva a ser bronze — e nos 5.000 metros.
O triunfo contundente de El Bakkali, com uma marca de 8:06.50, mais de dois segundos à frente dos mais diretos perseguidores, iniciou minutos de grande festa marroquina em Saint-Dennis. Agitaram-se bandeiras, o campeão aproximou-se de muitos compatriotas nas bancadas. Estima-se que há cerca de 1,6 milhões de pessoas vindas da diáspora marroquina a viver em França, e para elas, é um serão de grande orgulho.
O melhor momento da celebração foi, ainda assim, outro. Soufiane foi para uma das zonas com água que se segue a um obstáculo, o qual estava perto da bancada onde havia mais marroquinos. Banhou-se naquelas águas, chapinhou, fez daquele local uma piscina, desfrutou do momento, para alegria de quem tinha bandeiras vermelhas no estádio, para contentamento de quem vê em El Bakkali um ícone nacional, estatuto reforçado quando, em setembro, o campeão doou sangue para as vítimas do gravíssimo terramoto que assolou o país.
Na batalha do norte de África, Marrocos superou a Tunísia, que ficou de fora das medalhas, com Amin Mohamed Jhinaoui 4.º e Ahmed Jaziri em 5.º. A prata foi para Kenneth Rooks, dos EUA e em estreia olímpica, e o bronze para Abraham Kibiwot, do Quénia, repetindo o que fizera nos Mundiais de 2023, também com El Bakkali no lugar mais alto do pódio.
A festa de Marrocos teve, ainda assim, um ponto de preocupação. Lamecha Girma, etíope que é o recordista mundial da especialidade (7:25.11 minutos feitos em 2023), caiu num dos últimos obstáculos, tendo de ser levado de maca para fora da pista.